NASCE O BABADO

Criado em 1996, primeiro jornal LGBT+ de Campinas surgiu com foco na militância

Fruto do Expressão, grupo pioneiro de defesa de direitos humanos da cidade, periódico gay visava propagar lutas da comunidade

27 nov. 2023

Em 1996, as primeiras edições do Babado, jornal pioneiro LGBT+ de Campinas, começavam a circular. O periódico surgiu como uma extensão do Expressão, entidade de Campinas que lutou em defesa dos direitos humanos, principalmente para a comunidade gay da época. Fundado pelo engenheiro agrônomo e ativista Fernando Tambolato, morto em 2017, e seu companheiro, Jairo Silva, a organização foi o primeiro grupo militante oficial da cidade.

O Expressão, por sua vez, foi gerado por um movimento informal, chamado Conviver. Era uma roda de conversa entre homens gays que tinha a intenção de debater assuntos como a prevenção contra infecções sexualmente transmissíveis e direito dos homossexuais à união civil. “Não era um grupo de militância, mas era um grupo para conversas”, reforça Paulo Mariante, 60, que não fez parte do Conviver, mas esteve envolvido na fundação do Expressão.

Como tudo começou

Em 1995, três membros do Conviver participaram de uma palestra realizada pelo professor Luiz Mott, 77, fundador do Grupo Gay da Bahia Motivado pela apresentação de Mott e por sua vivência em países da Europa em que pessoas LGBT+ contavam com mais direitos, Tambolato decidiu criar o Expressão.

“Para os gays, os espaços de convivência eram só os espaços da noite. Nenhum espaço ia falar de discriminação. Então, o Expressão surgiu muito com essa cara”, relembra Mariante. O advogado ainda afirma que, na época de sua criação, o grupo contava com cerca de 25 membros.

Diferentemente de alguns grupos LGBT+ dos anos 90 que recebiam apoios financeiros do governo para conscientizar a comunidade sobre o HIV/Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, o Expressão recebia apenas insumos, como preservativos, para distribuir nos espaços da cena gay.

Após quase um ano de atuação do Expressão, surge o Babado. O objetivo do jornal, financiado por Tambolato, era fomentar a luta pelos direitos da comunidade LGBT+ na cidade. “Começou a todo o vapor, com todas as iniciativas de reunião de pauta e todo aquele processo maluco de distribuição do jornal”, conta Mariante. Nos dois anos seguintes, a publicação dominou a cena LGBT+ campineira, com linguajar debochado e capas ousadas, ainda que nem sempre mantendo o foco na luta política.