Como o primeiro jornal LGBT+ de Campinas, o Babado marcava forte presença na cena gay noturna da época na região. Saunas, bares e boates eram cenário da rota de distribuição da publicação mensal, que era gratuita (apesar de a capa ter um preço sugerido, de R$ 1,50 a R$ 2,00). Esses locais eram também anunciantes do veículo, que chegou a ter 26 estabelecimentos diferentes estampados em suas edições.
No fim de semana seguinte à impressão do jornal, a equipe do Babado passava madrugadas em claro distribuindo a publicação nesses pontos. Os redatores se dividiam nessa missão, em uma rota que chegava a outras cidades da região, como Americana, Piracicaba e São Paulo. A tiragem era de cerca de 20 mil. “A gente ia em duplas ou em grupos, ou se organizava para irmos sozinhos. Lembro de uma ou duas vezes ter ido distribuir sozinho”, relembra Paulo Mariante, 60, ex-redator do jornal.
Entre as boates que faziam parte desse roteiro estavam a The Club e a Double Face, as mais populares de Campinas então. Já nos bares, a entrega sempre acontecia no Open Bar e no Bar das Meninas. As saunas Germânia e Antares também recebiam exemplares mensalmente.
“Nesses lugares era regular. Se saía edição, tinha que passar. Não tinha uma equipe fixa [para fazer o trabalho], mas esses lugares sempre tinham distribuição. A edição saía pela quinta à noite para pegar o final de semana. Isso era praxe”, explica Mariante.
O sucesso na noite
A presença do Babado nas boates fez com que o “pessoal do Babado”, como eram conhecidos, ganhasse um status de celebridade da comunidade na região. Os membros da equipe editorial do jornal eram considerados “presenças VIP” nas casas noturnas em que distribuíam as edições, tendo acesso aos artistas e camarins, como relembra Eduardo Gregori, 54, ex-colunista do periódico. Muitas vezes, eram também convidados para os eventos, pois o jornal realizava a cobertura da noite campineira e de outras cidades da região.
“A gente ia com uns maços para entregar, para deixar na casa noturna, e aparecia um enxame. As pessoas vinham desesperadas. Elas nem liam ali na hora, porque estavam se divertindo, mas guardavam e levavam para casa. Os leitores sempre vinham conversar conosco, e principalmente cobrando: ‘Ai, por que eu não apareci nessa edição?’”, revela Eduardo Gregori, que chegou a atuar como editor-chefe da publicação.
Apesar de marcantes para a história do Babado, esses espaços não existem mais. A própria sede do grupo Expressão, responsável pelo surgimento do jornal, hoje é apenas uma casa abandonada, 25 anos após o fim da organização.
Em terras estrangeiras
Mesmo sendo pioneiro em uma cidade interiorana, o Babado não se restringiu apenas a Campinas e região, chegando a circular em outros estados e até países. A razão disso era o fato de o fundador do Expressão e do Babado, Fernando Tambolato, que morreu em 2017, levar diversas edições do veículo quando viajava a trabalho ou lazer. “O Fernando vivia viajando para o exterior, e, toda vez que ele ia, ele levava vários jornais”, relembra Regina Bottari, 60, que fez parte da equipe.